Como educar? Punir é a solução?
- Bruna Alves. Pedagoga, Psicopegagoga.
- 25 de ago. de 2015
- 3 min de leitura

Muitos pais vivem situações de dúvida e receio sobre a maneira correta de educar os filhos, principalmente no que se refere à punição ou castigo. Sabemos que demonstrar as regras sociais, regras morais e a importância de valores éticos é um dos principais pontos da educação familiar.
Sabemos, também, que a melhor maneira de transmitir todos esses aspectos é através do exemplo. Principalmente as crianças menores aprendem muito de seu comportamento através da observação dos modelos dos adultos que a cercam. Se fosse só isso - dar o bom exemplo - e ter a certeza de que estava tudo certo, realmente seria muito fácil. Mas, quem tem filhos sabe que isso não é o suficiente e que, uma vez ou outra, as crianças irão nos testar, extrapolando as regras, por melhores que elas tenham sido exemplificadas em casa.
E nessa hora?? O que fazer??
Segundo as teorias de Piaget, a autonomia é uma das principais características que devemos estimular nas crianças, pois é ela que permitirá a construção do conhecimento do mundo e não apenas a retenção do que é entornado em sua cabeça.
Se, por exemplo, na aritmética, quando uma criança for questionada sobre o resultado de 4 + 2 e responder 5, tenho certeza de que muitos pais e professores responderiam que está errado, dando o valor correto. O resultado desse tipo de correção é que as crianças se tornam convencidas de que a verdade advém somente da cabeça do pai ou da professora.
Quando uma criança diz que 4 + 2 = 5, a melhor forma de reagir é perguntar-lhe como ela conseguiu este resultado, pois as crianças corrigem-se frequentemente de modo autônomo à medida que tentam explicar seu raciocínio.
Essa mesma autonomia deve ser estimulada no âmbito moral. O ideal para o desenvolvimento moral da criança é estimulá-la intercambiando pontos de vistas. Por exemplo: Quando uma criança diz uma mentira, o adulto pode privá-la de uma sobremesa ou fazê-la escrever 50 vezes "é errado mentir". Mas, ele também pode evitar de punir a criança e, olhando-a em seus olhos dizer: 'Realmente não posso acreditar no que você está me dizendo porque..."
Esta troca de pontos de vistas contribui para o desenvolvimento da autonomia das crianças. A criança percebe a real ligação entre seus atos e as consequências deles.
Por outro lado, a punição (quando a consequência não tem relação direta com o ato cometido) pode trazer 3 consequências:
Cálculo dos riscos: a criança ou adolescente começa a planejar se o "crime vale à pena" e elabora estratégias para não ser descoberto.
Conformidade cega: a criança tornar-se-á conformista, evitando tomar decisões que afetem sua segurança e respeitabilidade. Suas consequências, geralmente, são observáveis na vida adulta.
Revolta: a punição pode até ser válida por algum período, mas em algum momento da vida, a criança, cansada de satisfazer o outro, resolve que chegou a hora de "começar a viver por si própria", podendo envolver-se em vários comportamentos que caracterizam delinquência.
Não podemos, por outro lado, confundir autonomia com liberdade completa. A autonomia significa levar em consideração os fatos relevantes para decidir agir da melhor forma para todos.
Piaget era bastante realista para dizer que na vida cotidiana é impossível evitar totalmente as punições. Mas privar uma criança de comer sobremesa por causa de uma mentira é uma relação completamente arbitrária. O oposto é o que chamamos de sanção por reciprocidade. Piaget descreve 4 tipos (mas abordarei apenas um para exemplificar e deixarei uma descrição mais detalhada para um outro momento) Por exemplo: Se a criança, mesmo tendo sido avisada sobre tomar cuidado e não derramar tinta no chão da sala, o fizer, uma reação apropriada seria dizer: "O que vamos fazer?". Nessa situação, a criança responsável pelo estrago pode ver o ponto de vista da vítima (o chão ou a mãe que limpa o chão) e ser encorajada (sem discursos morais) a construir por si mesma a regra de reparação.
Quando as crianças não têm medo de serem punidas, elas se manifestam espontaneamente e fazem a reparação. A criança que se sente respeitada na sua maneira de pensar e sentir é capaz de respeitar a maneira como os adultos pensam e sentem.
(Retirado do site: http://www.comoeuaprendo.com.br em 25/08/2015)
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